Padre Santiago Peres sobre Leão XIV: “Temos um discípulo de Francisco no papado”

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O padre Santiago Perez, da paróquia Nossa Senhora da Assunção, foi o convidado do CB.Poder de ontem. No programa — parceria do Correio Braziliense e da TV Brasília —, ele falou sobre o perfil de Robert Prevost, o papa Leão XIV, eleito na última quinta-feira, lembrou que a trajetória do novo pontífice se assemelha à do papa Francisco e destacou que ele deve dar continuidade ao trabalho feito pelo antecessor. Às repórteres Sibele Negromonte e Paloma Olivetto, o padre enfatizou que Leão XIV deve levar um legado da América Latina para o Vaticano. “Podemos falar que temos um discípulo de Francisco no papado”, acrescentou o religioso. 

Foi surpresa a escolha de Robert Prevost como novo papa? 

Surpresa total, ninguém esperava. Mas a Igreja escolheu este papa que trabalhou nas periferias do Peru e passou por muitos lugares da América Latina com o seu trabalho pastoral. Ultimamente, trabalhava muito próximo do papa Francisco.

A Igreja elegeu dois papas latinos na sequência. Qual mensagem passada ao mundo com essa escolha?

Eu penso que, a partir do papa Francisco, começa uma fase mais aberta, mais próxima das periferias da Igreja, sem estar tão centralizada em algo ou alguém. Creio que isso simboliza uma abertura maior para as igrejas de todo o planeta.

O novo papa passou 18 anos no Peru. De que forma o senhor acha que isso pode moldar o papado dele? Qual legado ele deve levar da América Latina para o Vaticano?

Fundamentalmente, a questão pastoral. Ele é um pastor “com cheiro de ovelha”. Se você vem de uma diocese pequena, não tem como não estar próximo das pessoas. Essa proximidade com as pessoas marca um rumo muito claro. Ele vem com as mãos sujas do barro peruano, dos Andes. Tem foto dele também montado a cavalo. Isso é muito bom. A espontaneidade do novo papa, de quebrar protocolo e falar espanhol, também é algo bem latino.

Este papa demonstrou ser uma pessoa simples, demonstrou emoção, dispensou o tradicional sapato vermelho, e assumiu uma postura aparentemente humilde. Isso seria um sinal de que ele deve seguir essa humildade durante o papado?

Sim. Francisco lutou muito contra o clericalismo, que é quando o padre assume uma postura de autoridade e distanciamento do povo. Essa simplicidade marcou um rumo que deve ser seguido.

Em sua homilia, o papa foi enfático quanto à importância de não se apegar ao materialismo. 

Sim. E podemos falar que temos um discípulo de Francisco no papado. Francisco buscou ser um homem mais do que um papa, ele trouxe uma humanidade. E 99,9% dos padres se tornam padres porque têm o desejo de ajudar e de doar a vida para as pessoas. Ele deu essa cara ao papado.

O senhor acha que o papa Leão XIV seguirá a linha de Francisco em relação ao meio ambiente?  

O papa Francisco vivia na simplicidade e chamou a Igreja para viver nessa simplicidade também. Bento XVI dizia que a Igreja tem facilidade para receber doações, mas tem dificuldade para doar, e isso é uma verdade. E o ser humano também é assim. Precisamos seguir uma caminhada para a simplicidade e para a justiça. Se o ser humano domina os outros na base do egoísmo, e não do amor, como fazemos também com a terra, a consequência é catastrófica. Francisco foi um papa que quis viver o que ele disse, foi muito coerente. Ele quis viver até as últimas consequências nessa coerência e deixou um legado muito forte.

O senhor acha que a pauta social, de gênero e diversidade, estará presente no papado de Leão XIV?

Não tenho dúvidas. Na Jornada Mundial da Juventude, o papa Francisco faou que a Igreja é de todos. Ninguém fica excluído. Está mais do que claro que toda essa questão está na agenda da Igreja. Temos que abrir as portas. Papa Francisco não somente abriu a Igreja como manteve contato pessoal com pessoas diversas, homossexuais, pessoas que pensavam diferente dele. Ele tinha o dom da escuta, era capaz de escutar qualquer um. Essa abertura é fundamental, não tem volta. Jesus nunca disse “não” para ninguém.

Por Mila Ferreira do Correio Braziliense

Foto: Ed Alves CB/DA Press / Reprodução Correio Braziliense

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