O Corpo de Baile do Distrito Federal dedicou suas primeiras aulas no recém-nomeado Centro de Dança do DF à professora e bailarina Gisèle Santoro. Após seu falecimento, em 9 de outubro, o Governo do Distrito Federal (GDF) oficializou a mudança, que rebatizou o espaço como Centro de Dança Gisèle Santoro, por meio do Decreto nº 47.806, publicado no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). A decisão reconhece a importância da artista na história da dança em Brasília, na formação de bailarinos e no fortalecimento da cultura local.
“O legado de Gisèle Santoro deve ser perpetuado através de iniciativas que fomentem a dança em toda sua potência. Mais ainda, Gisèle nos inspira a transformar a capital do país na capital da dança”, declarou o subsecretário do Patrimônio Cultural do DF, Felipe Ramón.
Formada na Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Gisèle chegou a Brasília em 1962, a convite da russa Eugenia Feodorova, criadora da Fundação Brasileira de Ballet. Na capital, conheceu o maestro Cláudio Santoro, com quem se casou e promoveu importantes iniciativas de música e dança. Após o golpe militar de 1964, o casal se exilou na França e depois na Alemanha, onde Gisèle integrou por sete anos o Teatro Municipal de Heidelberg.
De volta ao Brasil em 1978, ela participou ativamente da inauguração do Teatro Nacional, colaborando na formação da orquestra, do coro e de outros departamentos da instituição. Também fundou o Ballet de Câmara Gisèle Santoro e o Ballet de Brasília, escolas que marcaram a formação de bailarinos e professores ao longo de décadas. Além disso, organizou eventos de grande impacto, como a Mostra de Dança de Brasília e o Seminário Internacional de Dança.
Novos talentos como herança
O Centro de Dança Gisèle Santoro, vinculado à Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF), atua na formação de novos talentos, especialmente jovens em situação de vulnerabilidade, oferecendo aulas gratuitas no contraturno escolar pela Escola de Formação Bailarinos de Brasília. Em fevereiro deste ano, o espaço inaugurou o primeiro Corpo de Baile profissional do DF, composto por 16 bailarinos que se preparam para apresentar, em dezembro, o tradicional espetáculo O Quebra-Nozes.
O diretor artístico do grupo, Luis Ruben Gonzalez, destacou que o equipamento público funciona de forma estratégica para a dança em Brasília, oferecendo estrutura adequada e acolhimento aos profissionais. “Todo mundo tem acesso a várias modalidades, não só balé clássico, com um piso de qualidade, salas climatizadas, camarins, banheiros, refeitório e toda a estrutura necessária para tantas horas de trabalho intenso no corpo, que é bom em todos os aspectos, inclusive o mental”, explicou.
Ele também ressaltou a importância da herança deixada pela professora: “A Gisèle era nossa segunda mãe na dança, nos passou esse amor imenso pela arte. O que a gente é hoje e o que vai continuar sendo vem dela também. Eu cheguei em Brasília como convidado em 2003, ela me abraçou e me ajudou profissionalmente. Um dos grandes sonhos dela era ter um corpo de baile, e é um orgulho poder dirigir artisticamente esse projeto, onde ela tem muito protagonismo”.
Para o bailarino Lucas Nascimento Moreira Pio Teixeira, 24 anos, a professora foi determinante para que a dança se tornasse profissão: “Ela foi a primeira professora que eu tive. Com ela vi pela primeira vez profissionais de balé, quando eu tinha 8 anos. Ela me mostrou que era o que eu queria e que essa porta poderia ser um trabalho, não só um hobby”.
O bailarino Renato da Silva, 32, lembra da última vez que encontrou a mestra: “Um dos últimos pedidos dela ao governo foi a fundação de um corpo de baile no DF. Na última apresentação que fizemos, na Ermida Dom Bosco, a Gisèle estava lá e viu o corpo de baile acontecer. Acho mais que merecido o Centro levar o nome dela, porque ela é a figura mais alta da representação da dança na cidade. Brasília, Gisèle Santoro e a dança se unem, se fundem”, relatou.
Por Por Brasília
Fonte Agência Brasília
Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília