O brasiliense está cada dia mais endividado. De acordo com dados da Serasa Consumidor, em abril de 2025, o Distrito Federal tinha 1.390.032 pessoas com alguma dívida vencida, número que é 6,34% maior do que no mesmo período do ano passado, quando a capital do país tinha 1.262.459 inadimplentes. A pesquisa aponta, ainda, que, somados, os valores das dívidas chegam a mais de R$ 11 bilhões, contra R$ 10,2 bilhões em 2024 — aumento de 12,46%.
Além disso, o levantamento destaca que a cifra média das dívidas, por pessoa, também cresceu. Em abril do ano passado, estava na casa dos R$ 7,8 mil, e, no mesmo mês de 2025, gira em torno de R$ 8,2 mil (confira outros dados no infográfico). Segundo o especialista em educação financeira da Serasa, Lucas Tosati, isso mostra que, no DF, a inadimplência deixou de ser pontual e virou um pacote de boletos que se empilham todos os meses.
“Esse cenário ocorre porque o brasileiro está tomando crédito num ambiente de Selic ainda acima de 14% ao ano”, explica. “Juros caros que elevam o rotativo do cartão, o parcelado da loja e qualquer renegociação. Soma-se a isso uma inflação puxada por esse aumento de consumo e temos a tempestade perfeita”, alerta.
Tosati explica que a renda existe, mas é devorada pelos juros antes de chegar o fim mês. “Fica o alerta! Aproveitar o mercado de trabalho aquecido para renegociar suas dívidas e investir em educação financeira é urgente. Caso contrário, o Distrito Federal deve ver o bolo de contas crescer ainda mais em 2026”, avalia o especialista.
Crédito caro
Coordenador de graduação em economia, gestão pública e financeira do Centro Universitário Iesb, o economista Riezo Almeida classifica os dados da Serasa como alarmantes. De acordo com o especialista, com a alta da Taxa Selic, é possível concluir que o dinheiro circulando na economia não está em abundância. “Ou seja, o crédito está caro. Um cidadão com dívida e que tenha um histórico de maus hábitos nos seus pagamentos ou falta de educação financeira, como pagar contas em dia, irá buscar empréstimos no banco, o que trará mais endividamento”, observa.
Outro ponto a se destacar, segundo Almeida, é a inflação. De acordo com o especialista, há aumento do custo de vida e diminuição do poder de compra. “Isso se reflete na dificuldade de quitar compromissos anteriores, com novos empréstimos sendo contraídos para cobrir antigos”, explica. “Com pouca ou nenhuma ação de renegociação ampla por parte das grandes instituições financeiras, a dica é priorizar pagar as dívidas com juros mais altos primeiro, além de buscar o parcelamento com desconto sem juros e a revisão de cláusulas abusivas”, aconselha o economista.

Pagamentos
A gerente de cobrança tributária da Secretaria de Economia (Seec-DF), Leila Mayara Távora de Brito, esclarece que o contribuinte, ao acessar o Portal de Serviços da Receita utilizando CPF, login Gov.br ou certificado digital, tem rapidamente conhecimento da existência de débitos tributários ou não tributários em seu desfavor, inscritos ou não em dívida ativa. “Nesse mesmo canal, é possível emitir o Documento de Arrecadação (DAR) para pagamento à vista, assim como negociar os débitos vencidos e passíveis de parcelamento”, ressalta.
Outro meio rápido e fácil de consultar débitos inscritos ou não em dívida ativa e emitir a 2ª via do DAR dos tributos e parcelamentos é por meio do APP Economia — disponível para Android e IOS. Além disso, segundo Leila Brito, a Seec, por meio da Subsecretaria da Receita (Surec), envia, periodicamente, comunicados por meio do Domicílio Fiscal Eletrônico, e-mail e APP, informações sobre a existência de débitos vencidos e a vencer. “Caso o contribuinte tenha dificuldade em acessar o atendimento virtual, a Receita do DF dispõe de atendimento presencial nas agências”, pontua.
Água e luz
Para quem está com dívidas na conta de luz, o gerente da Neoenergia Brasília, George Denner, explica que os clientes podem quitar os débitos em até 21 vezes, por meio do cartão de crédito. “Todos os pontos de atendimento da distribuidora estão prontos para oferecer a melhor negociação possível, dentro dos limites financeiros de cada família”, garante. Segundo Denner, podem negociar débitos todos os consumidores que têm a partir de duas contas em atraso, com exceção dos inscritos na Tarifa Social, que podem recorrer ao acordo com um mês vencido. “Os montantes devidos poderão ser parcelados por meio do cartão de crédito ou pela própria fatura”, afirma.
Se a cobrança for na conta de luz, o parcelamento pode chegar a até 12 vezes. “Neste caso, o valor da negociação será cobrado juntamente com a conta do mês. É importante lembrar que para os clientes inscritos na Tarifa Social o sinal é a partir de 8%. Para os demais consumidores, o percentual de sinal começa em 20%”, esclarece o gerente da Neoenergia Brasília. “Para facilitar a negociação, contamos com um canal exclusivo no site oficial, onde a pessoa identifica o débito e simula o parcelamento antes de fechar a negociação por meio do cartão de crédito. O portal de negociação é intuitivo e de fácil utilização”, ressalta.
Diego Rezende, superintendente de comercialização da Caesb, afirma que a companhia oferece diversas facilidades para que o cidadão possa renegociar suas dívidas. “Isso inclui parcelamentos flexíveis e condições especiais de pagamento. O cliente pode negociar por meio do site oficial da Caesb ou buscar atendimento para negociação com o Consórcio Sanear, único representante legal a realizar negociações e cobranças em nome da companhia, e verificar as opções disponíveis”, esclarece. Segundo ele, o objetivo da companhia é facilitar a regularização das contas em aberto, evitando a suspensão do fornecimento de água e promovendo o consumo consciente e responsável.
Três perguntas para
Oto Tertuliano de Oliveira, professor de ciências contábeis do Ceub
O que leva uma pessoa a acumular tantas dívidas?
O endividamento está intimamente ligado à forma como cada pessoa se relaciona com o dinheiro, algo que tem raízes profundas na criação, na personalidade e até no temperamento de cada um. Ou seja, não dá para generalizar. Muita gente se endivida por razões imprevisíveis, como um acidente, uma doença ou uma emergência familiar. Outros acabam se lançando em pequenos empreendimentos por necessidade, vendem bolos, doces, maquiagem, lingerie, mas investem em estoque, o negócio não decola e acabam no vermelho. Mas quando falamos da dívida crônica, que se acumula mês a mês, normalmente o que está por trás é um desequilíbrio entre vontade e possibilidade. As pessoas querem consumir mais do que realmente podem pagar.
De que forma costumam se endividar?
A principal porta de entrada para o endividamento é a tomada de crédito e, pior, crédito com custo elevado. Os vilões mais comuns? Rotativo do cartão de crédito e cheque especial. Os juros podem variar de 10% a 20% ao mês, dependendo do banco. Isso significa que uma fatura de R$ 100 que não foi paga vira R$ 114,50 no mês seguinte. Se continuar sem pagamento, no outro mês você já estará devendo juros sobre juros, é o chamado juro composto, que vira uma bola de neve.
O que pode ser feito para sair das dívidas?
O primeiro passo é entender que dívida só se paga com sobra. Não existe mágica. Você vai precisar revisar os seus custos fixos e cortar o máximo possível para gerar essa folga no orçamento. Depois, é hora de negociar. Não importa se você está devendo para o banco, para a oficina, para uma loja ou para uma pessoa física. A melhor saída é chamar o credor para uma conversa honesta. Se você deve R$ 10 mil, por exemplo, diga quanto pode pagar por mês — R$ 500, por exemplo. Pergunte se é possível parcelar em 20, 24 meses. Se houver acordo, ótimo. A dívida entra nos trilhos. O importante é não se esconder da dívida e não fingir que ela não existe. Negociar com transparência e realismo é o caminho mais eficaz e, na maioria das vezes, o credor prefere receber algo do que nada.
O povo fala: Como está sua vida financeira?
“Tenho muitas dívidas, atualmente, principalmente por causa do Fies. Estou tentando pagar aos poucos, priorizando o que for mais urgente e, se sobrar alguma coisa, quito uma parte do financiamento”
Lívian Nogueira, 42, técnica de enfermagem (Candagolândia)
“Não tenho dívidas atualmente. Evito ao máximo, pois faço apenas freelances e não tenho uma renda fixa. Uso cartão de crédito, mas faço um controle de quanto posso utilizar no mês, para não estourar o orçamento”
Isadora Nazário, 18, estudante (São Sebastião)
“Tenho uma dívida muito alta, por causa de um pequeno empréstimo que fiz, aos 19 anos, que acabou virando uma bola de neve. Hoje em dia, tento correr de outras dívidas, por causa do aprendizado que tive com o empréstimo”
Gabriel Marquilles, 24, auxiliar de parrilla (Cidade Ocidental)
“Graças a Deus, não devo nada. Tenho uma planilha de controle, em que calculo meus gastos durante o mês. Além disso, evito utilizar cartão de crédito e, quando é necessário, não faço compras parceladas”
Gabriel Saraiva, 24, logística (Paranoá)
Por Por Brasília
Fonte Correio Braziliense
Foto: pacifico